Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

When You Wish Upon a Star... :)

Ao fim de longos quatro meses, eis-me de regresso, amigos, à prosa sem sentido e aos textos repletos de palavras exageradamente rebuscadas :)

O tema de hoje, sempre actual e ciclicamente abordado por milhares de sites da especialidade, o das Perseidas - sim, sim, já sei o que estão a pensar, mas o que sabe este cromo sobre cenas com nomes gregos a resvalar à bruta na casquinha de atmosfera da nossa bola azul?

Pois, olhem, vou ser absolutamente sincero, muito pouco mesmo, mas era isto ou falar sobre as medidas de austeridade que só o são para quem já não pode com um felino pela cauda, ou dos Jogos Olímpicos de Londres, de onde Portugal trouxe de volta (quase) apenas etiquetas nas malas a mostrar que lá esteve - qual deles o tema mais triste - possivelmente as etiquetas, que tiveram de voltar com os nossos atletas...

Assim sendo, googlei que nem um doido tudo o que encontrei (957.000 resultados num quarto de segundo - li o primeiro) sobre este fenómeno anualmente recorrente, entre 11 e 13 de Agosto, com o seu dia de glória a 12 - quem esteve disposto a um torcicolo com uma dose extra de falta de descanso nessa noite pôde - alegadamente, que nestas coisas nunca há certezas - ver até 100 - contem-nos bem, para cima de 10! - pedacinhos de lixo cósmico, a entrar na nossa atmosfera, por hora, a velocidades espantosamente elevadas (pra lá de muito depressa, mesmo), sobreviventes de calhaus estelares maiores que tiveram a infeliz ideia de andar à porrada com planetas e não estiveram para esperar pelo INEM.

Na sua maioria são pequenitos, entre o tamanho de uma unha de gel da Maya, e o do cérebro liofilizado do Miguel Relvas (escala de referência: passa do Natal, mas com equivalência de figo seco). Alguns, cerca de 5%, lá poderão ser maiores, mas nunca excedendo as dimensões do Orçamento de Estado da Etiópia num dia de muito calor.

A parte bonita desta entediante explicação com pretensões de humor é que, de uma forma geral, a maioria das pessoas que contemplou o fenómeno optou por interpretá-lo à sua maneira, o que geralmente oscilou entre o "Vou fazer um desejo antes que o risquinho desapareça!" (fadado ao insucesso, a não ser que o desejo seja "não ter tempo de fazer um desejo", que aquilo acaba em meio segundo) ou o "Sinto-me com sorte, vou jogar no Euromilhões!", o que resulta muito melhor se não estivessem estado a ver as estrelas enquanto conduziam uma moto sem olhar para a estrada - a sério, pessoal, se tiverem dúvidas, nas bikes as partes de borracha são para baixo...

O que nos traz, curiosamente, à temática quase mística (e praticamente inexplicável) de nos sentirmos singulares quando vemos algo que - julgamos - pouca gente vê. Sentir-nos-emos bafejados pelo destino? Se sim, é uma brisa fresca numa noite de Verão, ou o hálito de um idoso alcoolizado a perguntar as horas? Suponho que tudo dependa do que esperamos da vida, e da probabilidade desta ser afectada por pedritas que se transformam em nada a centenas de quilómetros acima das nossas cabeças.

Se forem daquele grupo que crê nas voltas predestinadas de cartas ambíguas e constelações que formam figurinhas altamente suspeitas, uma estrela cadente (coisa que não existe em nenhum ponto do universo, só para vossa informação - as estrelas não caem, ok? Se pudessem tropeçar - que também não podem, porque não têm pernas - não caíam na mesma, porque no vácuo até a Simara flutuava.)... Enfim, perdi-me, onde ia eu.. Ah, pois, uma estrela cadente, para essas pessoas, será o equivalente a uma pata de coelho (se fosse do coelho que estou a pensar, ainda acreditava que algum bem viesse daí...) com trevos de quatro folhas entre cada dedo, uma figa enrolada ao pelo e um olho gordo a servir de pega - resumidamente, uma coisa mesmo muito à frente - pelo que imagino que com 100 por hora, o resultado para o desgraçado que as visse só podia ser uma overdose de sorte com resultados catastróficos, estilo "Final Destination" cruzado com "Jackass" - contas feitas, é melhor só ver uma e fechar logo os olhinhos, para não exagerar...

Se, por sua vez, pertencerem àquela malta que acha giro e tal mas prefere antes ver um vídeo disso no YouTube, já resumido e com música ambiente, sem a seca da espera, das câimbras e da desilusão de só ter visto 5 em 3 horas - sendo duas delas um avião e uma cegonha, respectivamente - então todo este texto já vos adormeceu algures entre o título e o primeiro parágrafo - na vossa geração, cenas que não mexem rapidamente, fazem muito barulho ou, preferencialmente, ambas ao mesmo tempo, são só para velhotes e malta sem perfil de Facebook. Temos pena, mas há coisa que ainda vale a pena ver com os próprios olhos, como o penteado do Marante ou o Sol a pôr-se sobre o mar - em categorias diametralmente opostas, naturalmente.

Como não quero esgotar a vossa paciência, deixo aqui uma consideração, para acabar: quando o vosso tempo terminar neste plano, lembrem-se que as memórias reais de uma vida bem vivida são o que vos vai separar de todos os betos que passaram a vida a fazer "likes", partilhar fotos dos outros e vídeos de gatinhos, a cuscar as vidas alheias e a comentar sobre as escolhas de quem não lhes pediu a opinião.

Saiam de casa, vão ver o céu, sintam a chuva no rosto - enquanto escrevo está a chover -, sintam o cheiro da relva acabada de cortar, andem da mãos dadas com alguém de quem gostem, sentem-se numa esplanada com amigos e riam-se de coisas boas, e, diferentemente das "estrelas" deste texto, caiam muitas vezes, sem medos, mas levantem-se sempre a seguir - a experiência já valeu a pena.

Boa noite :) 



sexta-feira, 6 de abril de 2012

O amor e outras drogas :)

Amigos, com um pequeno interregno de 3 meses e uns trocos, eis-me de volta ao blog; o tema é semi-recorrente, mas a sua actualidade é indiscutível.


O poder curativo das coisas imensuráveis, o valor imenso das coisas em que acreditamos, a força das nossas convicções e a insustentável leveza do pensamento - abstracções da nossa cabeça ou panaceias milenares?


Todos já vivemos situações em que nos foi pedida calma. Ou talvez o contrário, uma acção. Reacção. Já o fizemos para outrem. Já impusemos racionalidade em momentos impulsivos e já nos forçámos a reagir em momentos de puro pânico. Já pedimos a alguém para acreditar em desfechos impossíveis e já acreditámos nós mesmos em causas perdidas. 


Hoje vou falar-vos de uma experiência pessoal, que poderá falar-vos ao coração ou não, que cada um sabe de si. Posso dizer-vos, no entanto, que para muita gente ver será sempre crer, sentir será sempre acreditar. 


Tive de efectuar, recentemente, uma visita áquele sítio onde se vai quando sentimos que o nosso tempo aqui pode estar por um fio, e precisamos urgentemente de ajuda - e lá esperei, como toda a gente, pela minha vez. 


Foram só umas horas. Mas o que me levou lá? A garganta começou a inchar. Por dentro. Deixei de conseguir respirar. A meio de uma refeição. Sem razão aparente. Pensei que pudesse ser alergia a algum alimento. Ou um conjunto de outras coisas igualmente más. Aparentemente terá sido apenas uma crise de pânico, que terá causado uma violenta reacção do meu sistema respiratório. Nada de mais.


Mas entre as 23 horas desse dias e as 3 da manhã do dia seguinte, essa insignificância foi o centro da minha vida. Que eu pensei, genuinamente, que pudesse estar a terminar. Aquela história da vida a passar-nos à frente dos olhos? Nope. Luzinha no fundo do túnel? Também não. Mas o resto estava lá.


Imagino que os mais fortes e resolutos de entre vós tenham  um conjunto porreiro de etiquetas nas pontinhas dos dedos, prontas a colar aqui no blogger. 


"Stressado". "Histérico". "Irracional". "Exagerado". "Drama Queen" (pronto, "King" neste caso). 


Aceito todos com um sorriso. E nem sequer é um daqueles cínicos. É sentido. O sorriso de quem passou por algo que o mudou. Que já esteve desse lado. Que até viver a sensação talvez cantasse de galo. Alguém que amadureceu.


Porque, quer queiramos quer não, todos somos verdinhos até amadurecer. 


Por vezes a vida acelera esse processo, outras vezes são os amigos, os familiares, os acontecimentos inesperados... Mas acreditem, a teoria de pouco serve em certos casos, e empalidece face à prática, como uma fada do Twilight, perante uma tia de solário.


No fundo, e esquecendo as metáforas, a minha mente subconsciente, reagindo a acontecimentos recentes, libertou quantidades espantosas de adrenalina no meu sistema e provocou uma reacção que poderia ter tido consequências mais graves se eu estivesse longe de um hospital, a conduzir ou sozinho nalgum lado.


A minha mente. Como algo separado, mas parte, de mim. Um censor interior, se quiserem.


Que teorias novas e velhas mudem os nomes às coisas, mas a verdade é que todos temos ainda os velhinhos três registos: o consciente que escreve blogs, o sub-consciente que está a processar toda a informação no segundo balcão, e o inconsciente que só sai à rua quando as luzes se apagam.


A verdade é que aquilo em que acreditamos tem o poder de se tornar realidade, de alguma forma, ainda que primariamente só para nós. O meu consciente acreditou que eu estava a morrer. Mas a parte assustadora, é que por vezes não sabemos que acreditamos. Não temos explicações para atitudes, medos, preconceitos e reacções. Por vezes, uma parte escondida de nós tomou as rédeas e nós deixámo-nos levar, como um barquinho de papel a caminho de uma sarjeta, num dia de muita chuva.


O meu sub-consciente mandou-me uma carta armadilhada com estalinhos. O meu consciente transformou-a em C4. Com anthrax. E um Smiley amarelo, com uma gotinha de sangue a escorrer.


Da mesma forma, em situações de maior stress, o meu consciente, apoiado pelas experiências passadas, (o sub-consciente a fazer-se útil), em que tudo tinha corrido bem, contribuiu para que mantivesse a calma e conseguisse ultrapassar, sem esforço, coisas muito complicadas.


Aquilo em que acreditamos faz um mundo de diferença. A fé num resultado. Há curas milagrosas que mais não são que um sistema complexo a funcionar de uma forma simplesmente brilhante. O chamado poder do pensamento positivo. Células que mudam o seu comportamento. Órgãos que recuperam motilidade. Lesões que desaparecem.


A medicina tradicional chama-lhes milagres, ainda que sem a conotação teológica. Eu chamo-lhes uma máquina bem oleada. Emoções canalizadas para fins que beneficiam o indivíduo, e por vezes também os que o rodeiam. Fluxos constantes de hormonas e enzimas alterando desfechos esperados e demonstrando, além de qualquer dúvida, que o órgão mais importante do nosso corpo é mesmo uma grande passa enrugada.


O amor, por exemplo, cura tanto como fere. Cria tanto como destrói. 


Mas quando está em modo "King of the World", somos invencíveis. Mais resistentes. Mais fortes. Mais rápidos. Não nos cansamos tão depressa. Não precisamos de dormir tantas horas. As dores passam para segundo plano. A nossa tolerância aumenta. A nossa simpatia duplica. Todos os nossos ritmos internos se alteram. A chuva não molha. O frio não gela. O calor não queima. Se a Pfizer descobre uma maneira de patentear isto sem efeitos secundários, o Viagra passa a uma relíquia do passado :)


Infelizmente, em modo "Emo for the Ages", provoca descompensação aos mais variados níveis. Olhar triste. Lágrimas fáceis. Espasmos. Suores frios. Vómitos. Diarreias. Arritmias. Enxaquecas. Perda de força. Cansaço crónico. Alergias. Lesões cutâneas. Feridas que demoram muito mais tempo a fechar. Mau humor. Irascibilidade. Falta de compreensão. Insónias. Sentimentos de rejeição.Tudo custa a fazer. A vida parece uma desafio intransponível. Se conhecerem quem pareça padecer de tudo isto, podem apostar que a causa é só uma.


Resumidamente, não há maior droga que a felicidade. Não há maior castigo para os invejosos que vê-la nos outros. Não existe prova mais provada do que as vidas mais longas, com maior qualidade e com mais alegria das pessoas que estão felizes. E o contrário nas outras.


Se eu acreditar eu posso muita coisa, mas se o meu peito estiver cheio daquele sentimento que nos faz voar (não é Redbull, que isso é tanga) eu sou capaz de ultrapassar todos os obstáculos que surjam à minha frente. Eu não terei medo. Nem imagino derrotas. Morte? 


O amor é imortal :D


Feliz Páscoa meus amigos, e lembrem-se que mesmo que duvidem que os coelhos ponham ovos de chocolate, acreditem que o amor pode mudar a vossa vida :D




















sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A Crise da Vergonha, e a Vergonha da Crise...

Meus amigos, neste último post de 2011 queria deixar-vos uma mensagem especial.

Mais um ciclo que se fecha, terminando um gregoriano ritual de 365 singelos dias, em que milhões respiraram um derradeiro sopro, enquanto quase o dobro abriu os olhos pela primeira vez, vidas ligaram-se, soltaram-se, perderam-se, criaram-se, justificaram-se e desperdiçaram-se sem razão nem rima aparente.

Porque a grande roda do karma não carece de fundamentos, apenas pensamentos - acções geram reacções, outras acções criam erecções, e outras ainda fazem apenas correr tinta. 

Cada vez mais virados para o nosso pequeno universo, entupidos de contra-informação e desinformação, habilmente tecidas para nos ocultar o principal, somos vítimas silenciosas - e mais grave, voluntárias - de uma complexa teia de enganos, urdida com perícia, desviando os nossos olhares quando tentamos ver o que pára atrás da cortina dourada, lavando-nos o juízo com reality shows, celebridades vacuosas e artes circenses dignas mais de Circe que de circo - um dias destes ainda daremos connosco transformados em alheios porcos, inconscientes para o destino certo que nos aguarda, felizes na pocilga até à chegada anunciada do açougueiro... 

Porque rios de tinta já correram sob a pena da crise, porque crânios bem apessoados, recheados com cérebros eminentes, já opinaram sobre tudo e mais alguma coisa, desde arautos da desgraça a velhos do Restelo, desde marketeers sorridentes a políticos mentirosos, todo o tuga e o seu cão tiveram uma palavra a dar, e uma certeza pessoal e intransmissível sobre o rumo que o país leva, e as razões que nos puseram neste caminho.

Não sou mais do que ninguém, mas também não serei menos, pelo que tenho também umas ideias a partilhar, uns pensamentos para debitar, convosco.

A crise, tal como tem sido veiculada, não existe. 

Nunca existiu propriamente, ainda que os seus efeitos se façam sentir, com maior ou menor repercussão, em todos os estratos da sociedade - naturalmente que esses mesmos efeitos são do mais negativo que há para quem já pouco tinha, e extremamente animadores para quem nunca deixou de ter muitíssimo.

O dinheiro e o seu valor, os mercados e os seus indicadores, os índices e os seus operadores, as agências de rating e os sues manipuladores, nada disso mudou, nada disso sofreu uma iota com os acontecimentos dos últimos anos. 

O dinheiro é o mesmo de sempre. Não há hoje nem mais nem menos do que havia. Os governos valem o mesmo que sempre valeram, e os seus governantes continuam a ser as criaturas demagógicas e egoístas que sempre  foram. Os partidos permanecem como Janus, o deus de duas caras, a dizer uma coisa e a fazer outra, não importando quem está no poder - uma mão sempre lavando a outra, e as duas lavando o rosto de estados que, de direito, só terão o nome.

Enquanto a bolha do imobiliário estoirava do outro lado do Atlântico, algumas centenas lucraram com isso. As mesmas que lucraram, e ainda lucram, com o 11 de Setembro. As mesmas que fomentam guerras e de seguida incitam à paz. As que derrubam governos, para terem onde colocar quem lhes defenda os interesses. As que controlam organizações humanitárias onde o dinheiro da venda de droga, armas e tráfico humano é branqueado, e de onde os donativos e alimentos recolhidos são depois entregues a guerrilhas, que os venderão às populações que cada um de nós, cidadãos solidários, pensou estar a ajudar com o pouco que pôde dispensar.

Os presidentes mudam e mudam-se, os ministros saem e entram, deputados votam e abstêm-se, juízes formam-se e reformam-se, representantes oficiais unem-se e corrompem-se, forças de segurança compram-se e vendem-se, mas o dinheiro, meus amigos, esse continua o mesmo.

Se crise há, se crise existe, é da vergonha, da honra e da palavra dada.

Lembram-se de quando dizer "palavra de honra" era um vínculo sério? Quando um "acordo de cavalheiros" era algo selado com sangue? Quando um "pela minha alma, pela minha saúde e a dos meus filhos" só se proferia quando realmente se dizia a verdade?

Eu não tenho a certeza, nem me lembro quando, mas sei que ainda vi gente assim. Gente simples, gente rude muitas vezes, mas gente verdadeira. Portugueses com rugas no rosto, mas com uma consciência sem mácula. Homens e mulheres que, em meio ao rigor das suas vidas, não deixaram que a sociedade do facilitismo, do compadrio, e da cunha fácil os toldasse, os tornasse ímpios, pobres de espírito e ricos em coisas vãs.

Portugueses que sabiam que as coisas importantes na vida se conquistam com o suor do nosso rosto, e não com o dos outros. 

Portugueses que levaram uma vida inteira a juntar para depois o seu país os roubar, que criaram famílias numerosas com dificuldades que hoje só imaginamos, sem apoios pedagógicos, medicação para hiper-actividade, alimentação equilibrada, actividades extra-curriculares ou recompensas por todo e qualquer mérito.

Portugueses que trabalhavam de sol a sol, que pagavam uma casa arrendada - que comprar era para ricos -, que não tinham medo de dizer "não" aos filhos, que não tinham depressões, nem esgotamentos, nem stress, não porque não tivessem sido inventados, mas apenas porque não tinham tempo para isso.

O tempo era pouco para a família, mas quando existia não era partilhado com caixas que falavam  e davam luz. Quando festas havia, todos as tornavam realidade. Quando os amigos se juntavam era na mesma sala, e não no mesmo chat. Quando os amores se inflamavam era na mesma rua, e não no Facebook. E quando gostavam mesmo de alguma coisa que viam, daquelas que valia a pena guardar, sacavam de uma bela duma Kodak, ou de uma Polaroid, e tiravam uma foto.

Uma foto! Sabem o que era? Vinha em papel brilhante, ou mate, e guardava-se em álbuns. Os casamentos lembravam-se assim, de lágrima ao canto do olho, a prima Joana, como era bonita, ou a tia Magda, como era velha e rabugenta, o feliz casalinho, como estava lindo nesse dia...

Não foi assim há tanto tempo. Porque ainda é agora esse tempo. Mas a sociedade sobrepôs tudo, a uma velocidade tal que já não há tempo para respirar. Para absorver. Para deixar a vida correr para nós, e não por nós. 

Deixámos de ter tempo para os outros. Para os nossos. Para o nosso coração. O umbigo, por melhor que pareça depois de tanto tempo no ginásio, não é um órgão essencial. Convenhamos, nem sequer é um órgão - é apenas uma lembrança de nove meses em que nem sequer tivemos de respirar ou comer, de um tempo em que o mais importante da nossa vida éramos nós.

Mas mesmo nessa altura o nosso umbigo trazia-nos tudo porque alguém zelava por nós. Porque decidiram pensar em algo mais que eles próprios. Porque decidiram que a vida só se pode dar como vivida quando se arrisca. Quando se dá o melhor de nós numa causa que pode ser perdida. Quando só baixamos os braços porque já não os temos, e mesmo assim nem aí. Quando acreditamos que "desistir" é o que se faz quando se esquece que isso nunca foi uma opção.

Ser português é tudo isto e muito mais. 

É gostar de fado e bola, de novelas e história de faca e alguidar, de almoçaradas e jantaradas, de praia e roupa curta, de mexericos e escândalos, de amigos e família - mas é também deixarmo-nos dormir na forma, dar a quem não merece o nosso destino, e cruzar os braços quando a democracia falha.

Ser português é ter pelo na venta mas também é ser cortês, é buzinar nas estradas mas também é cortar mato para deixar uma ambulância passar, é reclamar nas filas, mas também é dar a vez a uma mulher com outra vida dentro, é arrotar bem alto mas também é elogiar quem cozinha como a nossa mãe, é mandar piropos do alto de um andaime mas também é escrever cartas de amor, por mais ridículas que elas sejam.

É uma greve quando o dia roubado nos vai custar no fim do mês, mas também é deixar de ter fins-de-semana quando ajudamos quem mais precisa, é ser senhor de uma vontade de descobrir mundos, mas também ser capaz de nunca sair do seu jardim.

Desde D. Afonso Henriques que o nosso país - na altura bem longe disso - é uma amálgama cultural, social e económica, em que ter pouco se tornou um estilo de vida viável, e em que o "desenrasca" e o "vamos ver se dá" se tornaram filosofias zen, seguidas escrupulosamente por quase 10 milhões hoje em dia.

Descobrimos um mundo inteiro, provámos que a Terra era redonda, demos nomes a lugares distantes, criámos um país de irmãos alegres - mas pobres também, que isto é genético - encantámos o planeta com génios de bola e vozes de sempre, temos uma gastronomia globalmente reconhecida e dos melhores vinhos de todos os continentes, desfrutamos hoje de avanços tecnológicos fenomenais e uma das melhores educações que o dinheiro (não) pode comprar, um exército altamente capaz e forças de segurança equipadas para tudo.

Resumindo, quando queremos isto resulta - é preciso é querer.

E crises? Crises, meus amigos, comêmo-las ao pequeno-almoço desde antes do tempo do Menino Jesus. 

São o pão nosso de cada dia. Vencêmo-las todas. Todas.

Na despedida deixo-vos uma história da História: 

Neste nosso canto de terra e sal, reza a lenda que o nosso primeiro líder era pastor e caçador, reconhecido pelos romanos como um líder astuto e decidido - tão poderoso que só corrompendo três dos seus conselheiros conseguiram matá-lo, e mesmo assim durante o sono.

Viriato é reconhecido, não só como um grande homem, que se guiou pelos padrões de honra e honestidade dos maiores heróis clássicos, como uma pessoa simples, de trato justo, palavras ponderadas e incapaz de ceder à privação da liberdade com que nascera.

Disseram os romanos da Lusitânia desta altura, erguida entre Douro e Mondego, e expandida além fronteiras:

 "A mais poderosa das nações da Península Ibérica, a que, entre todas, por mais tempo deteve as armas romanas".

Detivemos o maior exército da história. Vencêmo-los com engenho e coragem. Com sangue, suor e lágrimas empurrámo-los para lá das nossas linhas. 

Porque nunca deixámos de acreditar. Porque éramos Lusos. Porque fomos tugas. Porque somos Portugueses.

Feliz 2012. Façam por isso, meus amigos.




sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Sociedade do Chega Pra Lá... O_o

Amigos, neste dia repleto de significados esotéricos, numerológicos, matemáticos e outros, quis deixar uma reflexão social e altamente pessoal, que por acaso é coisa pouco habitual neste blog.

Sem muito preâmbulos, hoje quis falar da facilidade, da autêntica arte que está enraizada, desde tenra idade, na maioria de nós, a da desculpa fácil aos nossos defeitos, erros e responsabilidades. 

Talvez seja porque é uma questão ocidental, possivelmente mediterrânica, mas possivelmente mais transversal a "ene" civilizações do que gostaríamos de admitir, mas tenho dias em que me farto das esquivas, das permanentes tentativas de tanta gente para evitar o inevitável: assumir alguma coisa de que não se orgulhem.

Entre clientes distraídos, que nem olham para as cadernetas antes de as actualizar e metem uma página qualquer, jurando a pés juntos que algum ilícito tinha sido praticado nas suas contas, ou que a máquina se tinha enganado - clássica, esta última - passando por colegas que nunca desarrumam nada - presumindo-se portanto culpa do material, que como é rebelde se desarruma sozinho... - e terminando em amigos, familiares e conhecidos que se esquivam de assumir responsabilidade no actual estado de coisas do nosso país - possivelmente por amnésia, que a omissão de auxílio é crime... - é um desconsolo ver o estado de coisas a que se chegou.

Entre políticos que apontam o dedo a tudo menos a si próprios, a pais que culpam professores, sociedade, filmes e jogos de vídeo pelos filhos que andaram demasiado ocupados para criar, a países que deitam as culpas de erros recorrentes a gerações mortas e que levantam as mãos para os céus, num gesto de absoluta inocência, entre religiões que chutam p'ra canto ensinamentos pacíficos e só lêem o que lhes convém, e entre milhões mortos pela fome, pela doença e pela guerra todos os anos enquanto o mundo dito civilizado, de costas viradas, pergunta se será altura de se inscrever num ginásio...

E depois não podemos desprezar o valor da Comparação Relativista (adiante designada por CoRe), que tenta colocar em perspectiva erros grosseiros ou defeitos gravosos, à luz de situações que permitam pensar que a asneira de que se é acusado é pequena comparada com a de umas misteriosas "outras pessoas", dos infames "montes de malta" ou do famigerado grupo "toda a gente".

Dou-vos como exemplo um colega meu, super boa onda, altamente espiritual - como o bacalhau, mas mais corpóreo - que, teimosamente, apesar de ser altamente inteligente e ter uma memória prodigiosa para dados políticos e geográficos, insiste em fumar como se o mundo fosse, de facto, acabar em 2012 (coisa com que ele insiste ser verdade, em brincadeira naturalmente). Já o conheci a fumar meio maço por dia - o que para quem nunca viu um desses à frente, se traduz em 11 preguinhos de caixão - e a sentir-se excelente, mas a querer diminuir. Nessa altura, usando o tal esquema da CoRe, ele alegava que conhecia "outras pessoas" que fumavam um maço inteiro, ou mesmo mais!! 

A parte engraçada é que estou convencido que ele acreditava mesmo que isso queria dizer que ele tinha uns pulmões virgens, e não que se matava - ligeiramente - mais devagar, o que é completamente diferente. O poder da sugestão é, indubitavelmente, uma força poderosa :) 

Mas continuando, aí há um ano mudou para tabaco de enrolar, absolutamente convicto que este passo só traria vantagens - não só era muito mais barato que o processado pelas tabaqueiras e as suas margens gananciosas, como era mais saudável - por possuir menos aditivos, supostamente - e ainda - e esta era a "pièce-de-resistance", pelo tempo que demorava a fazer um cigarro, com mortalhas, filtros e perícia à mistura, passaria menos tempo a fumar (!) e começaria, gradualmente, a perder a vontade de o fazer pela trabalheira que dava...

Não foi preciso muito tempo para o meu amigo - e digo-o com todo o orgulho que isso implica, porque é de um muitíssimo bom amigo que se trata, um ser humano fantasticamente inteligente e altamente competente a incontáveis níveis, mas humano ainda assim - aparecesse no trabalho com uma maquineta que parecia um baton sobre-dimensionado, que permitia fazer cigarros de uma forma automatizada, com um mínimo de esforço e desperdício :)

O argumento na altura foi que andava a desperdiçar muito tempo (o que antes era bom) e tabaco muito caro (que outrora era muito barato) numa operação que devia ser prazerosa. E a parte gira das ilusões que criamos para nós mesmos, das gaiolas douradas em que nos encurralamos, é que tomam configurações de tal forma atractivas que simplesmente não admitem perspectivas divergentes, como aquelas esculturas de rostos em baixo relevo, que parecem seguir-nos onde quer que estejamos.

Enfim, escusado será dizer que por essa altura este amigo já não passava a horinha habitual sem fumar, tendo reduzido o seu compasso de espera em muitos minutos e aumentado o consumo em muitos preguinhos - lá se ia a estatística confortável...

Como cereja no topo do bolo, aqui há coisa de 2 meses descobriu uma maquineta, que pela similaridade à outra, deve ter sido a versão industrial da primeira, antes de miniaturizarem o aparelho - agora, manifestara orgulhoso, já podia fazer 3 cigarros ao mesmo tempo! Confrontado, por mim, como um possível sinal de aumento descontrolado do consumo, desdramatizou dizendo que este novo tabaco - sim, que ele compra uns quilos por mês, e de todas as marcas, não é esquisito - era de tal forma mais saudável que o anterior que ficava ela por ela - e assim se dá a tal volta de 360 graus à vida de um trintão :p

E é este homem que deslinda com admirável simplicidade conspirações políticas, estabelece paralelos notáveis e analogias sagazes, o ser pensante que eu conheço que mais facilmente mistura o paranormal com para-anormais que é o nosso dia-a-dia de cidadãos neste país de incoerências escabrosas, verdades escondidas e vergonhas perdidas - a prova provada que a inteligência não é antídoto para o auto-hipnotismo inconsciente.

Não há mês que passe sem que eu me olhe ao espelho e pense que era melhor estar sossegadinho, que as ondas moem pedras, mas têm muito mais força com o mar todo por detrás - e que uma voz solitária tem um poder quanto muito simbólico, se não for solista de um coro maior, ou parte de um colectivo coerente. 

Eu próprio crio desculpas diárias para procrastinar os meus sonhos, os meus objectivos antigos, resoluções para problemas novos e velhos, mas sei no meu âmago que tenho culpas no cartório, e que, independentemente das cartas que a vida me jogou, o meu destino faço-o eu - a cantilena de caminhos escritos por linhas tortas, de karmas milenares e outras teorias tipo palmadinha-nas-costas, servem o seu propósito de tala nos olhos até um ponto.

A partir de um determinado momento, ou tomamos as rédeas das coisas, ou elas tomam as nossas - e acreditem que sentir o cortar do chicote no lombo, o freio nos dentes e as forças a esgotarem-se sob um futuro inclemente é um destino pior que a morte.

Parar é morrer, e fingir que não erramos o suficiente para ter de mudar é pior que parar - é imaginar que corremos enquanto todos vêem que estamos imóveis, de olhar fixo no umbigo, um fiozinho de saliva a escorrer no canto dos lábios...

Não podemos deixar que o maior inimigo da nossa felicidade nos impeça de atingir todo o nosso potencial - e se esse inimigo for o nosso próprio orgulho desmesurado, será assim uma vítima tão importante a sacrificar no altar dos nosso sonhos?  

Feliz São Martinho, amigos e amigas, que esta noite vos traga iluminação e um caminho claro à vossa frente - mas atenção, se exageraram na água-pé, pode ser sinal que caíram na linha do comboio... :D




segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Steve Is Really Inside... :)

Boa noite, amigos, e desde já as minhas desculpas por esta ausência mais prolongada que o costume, mas não me foi de todo possível arranjar material para os 2 posts que pensava escrever e, entretanto, surgiu de para-quedas este tema que me é particularmente próximo - a morte súbita, ainda que não inesperada, de Steve Paul Jobs, 56 anos, vítima de um cancro pancreático que combatia há 8 anos.

Sem me alongar muito, Steve era um homem que dispensava apresentações - um visionário como haverá poucos, criador e impulsionador de "ene" dispositivos e conceitos que ou despoletaram, ou solidificaram paradigmas tecnológicos, foi ele o cérebro por detrás da reviravolta da Apple - donde era CEO desde 96, tendo sido fundador em 79 mas de onde tinha saído em 85, por desavenças com o co-fundador Steve Wozniak  - tendo, com a inestimável ajuda de Jonathan Ive, alcançado o invejável estatuto de "guru" do visionismo consumista tecnológico.


Da sua mente surgiu uma boa parte do Mac OS, o fantasticamente simples e pioneiro sistema operativo criado pela Apple, percursor do Windows, com um conjunto de inovações baseadas na acessibilidade e na intuição - algo que a rival Microsoft ainda procura desesperadamente (talvez seja com o Windows 8... :p)



Foi também sob a sua alçada que os Macintosh se tornaram peça de culto entre os fãs da tecnologia em massa, visualmente apelativos e ricos em escolhas eminentemente práticas - lembro aqui o fantástico iMac dos anos 90, muito inspirados nos NeXT, criados por Jobs no interregno do seu reinado Apple - repletos de cores vivas, num conceito all-in-one, abandonando a então ubíqua drive de diskettes e substituindo-a por uma pioneiríssima drive de CD!!! Uns anos mais tarde os iMac viriam a evoluir para os actuais desktop dream machines, com ecrãs LED até 27", processadores de última geração e discos solid-state, a máquina de eleição de designers gráficos e publicitários em todo o mundo :)


Mas até aqui chegarmos, o tio Steve deu ao mundo a morte do Walkman de cassete, acelerou a despedida do MiniDisc também da Sony, e anunciou alto e bom som a alvorada da era digital - a música já não tinha de ser pesada, rebobinada nem complicada - apesar de ter havido outras tentativas prévias, por fabricantes conceituados como a Creative Labs e mesmo a Phillips, nenhuma empresa chegou aos pés da facilidade de utilização e absoluta intuitividade do botão multidireccional do primeiro iPod, em 2001 - literalmente inventando a roda :D  

Em 2004 voltou a desafiar preconceitos e a restabelecer paradigmas - disseram que a Nokia era impossível de vencer no jogo dos telemóveis, avisaram-no que a Sony e a Ericsson estava a ganhar quota de mercado e que gigantes como a Samsung e a HTC tinham entrado a "matar" - mas Jobs não quis saber. Conjuntamente com Ive, criou de raiz o que é, possivelmente, ainda hoje, o mais acessível e multi-facetado terminal móvel do mundo: rápido, táctil - algo de pioneiro na altura, infinitamente configurável com a melhor loja de aplicações do planeta - a AppStore, integrada com a pioneira plataforma multimédia iTunes, o centro de operações de tudo o que pudermos ter da Apple - estávamos em 2007 e tinha nascido o iPhone. Uma manobra aparentemente arriscada e destinada a falhar mas, em última análise, genial. Aliás, na sua iteração mais recente, lançada um dia antes da sua morte, o iPhone 4S veio trazer melhoramentos substanciais a nível de hardware, bem como uma nova versão do iOS, o sistema operativo exclusivo da Apple para dispositivos móveis. E como cereja no topo do bolo, o SIRI, o assistente pessoal que reconhece a nossa voz, em dicção natural, e satisfaz os nossos pedidos como fazer chamadas, enviar mensagens, encontrar algo no Google ou simplesmente navegar na internet - se já havia algo assim? Mais ou menos, mas nunca tinha funcionado, e agora funciona. É assim tão simples.

Em Janeiro de 2010, noutro golpe de génio, Steve revolucionou novamente o mercado da computação pessoal e de entretenimento - um "iPod Touch gigante", como muitos lhe chamaram, mas com capacidades acrescidas e um poder de processamento duplicado ao iPhone, caído de para-quedas num mercado que já tinha tentado lançar tablets por fabricantes reconhecidos, como a Acer, a Asus e a HP, sem nunca conseguir convencer os consumidores - quando o iPad foi anunciado, as pré-reservas superam na primeira semana meio milhão de unidades e a Apple voltava a re-inventar a roda. A receita? Dar aos consumidores algo de irresistível, criando uma necessidade que antes não existira - a da conectividade permanente com classe para dar e vender...

Ao longo dos anos, este homem foi admirado por milhões e temido por muitos, pelo seu feitio muitas vezes irrascível, capaz de ora acarinhar um funcionário genial como o destruir moralmente no dia seguinte - consta que terá despedido empregados no elevador, atirado objectos variados na direcção de colaboradores menos produtivos e evitado ir trabalhar dentro dos horários normais da Apple, de forma a não ter que ser interrompido por "cérebros menores".

Por contraponto, era-lhe também imputado um carinho especial por jovens carenciados, tendo criado bolsas de estudo em bairros problemáticos de cidades americanas, sabia recompensar regiamente as melhores ideias e era perfeitamente inspirador para várias gerações de pessoas em todo o mundo - a sua filosofia era de que nenhum sonho era inatingível, e que se acreditássemos de facto em algo, nenhuma força nos poderia impedir de o atingir.

Quem ouviu as suas palestras em campus académicos sabe do que falo - a sua mensagem era de um positivismo extremo, apelando para a urgência própria de alguém que sabe que a nossa janela de tempo é limitada e que não teremos para sempre as condições ideais de realizar os nossos sonhos - vindo de um lar destroçado, abandonado pelos pais biológicos e criado em lares de adopção, não chegou a concluir os estudos para perseguir outros interesses, numa odisseia de drogas, viagens ao oriente e más companhias - de alguma forma, este corrupio de experiências abriu-lhe a mente à forma de pensar que o tornou um empresário de sucesso.


Por mais críticas que lhe sejam apontadas, deixo aqui em tom de apontamento um resumo ligeiro dos "achievements" de Steve Jobs: 

- iMac, iPod, iPhone, iPad - com vendas acumuladas de mais de 500 milhões de unidades em todo o mundo.

Para todos os que o endeusaram, exageradamente, restam as vozes dissonantes que lembrarão sempre que era humano como nós, capaz das maiores injustiças e das palavras mais brutais, ainda que único, na forma de ver um mundo que ele quis deixar mais ligado, mais simples e, em última análise, mais belo.

Não temos todos de gostar dele, mas retirar-lhe o mérito seria mais do que injusto, seria um acto de inveja e da mais elementar "dor de cotovelo" - antes de atirarem uma pedra a Jobs, experimentem construir um sonho do nada e vejam quão avante o conseguem levar - no fundo a maior esperança que todos  carregamos dentro de nós, a de deixarmos uma marca no mundo de que nos possamos orgulhar, de termos mudado algo para melhor e de termos vencido as metas que estabelecemos para nós próprios, quando todos à nossa volta nos disseram "não vais conseguir".

Obrigado, Steve, por tudo o que ajudaste a criar - a tua dedicação e paixão são uma inspiração para todos nós. Não sei se estarás num iHeaven ou num iHell, mas terás certamente um valente iDidit contigo :D





sábado, 2 de julho de 2011

Amigos Imaginários e Memórias que Nunca Aconteceram :)

Boa noite, pessoal :)

Lá deixei passar mais de um mês de intervalo entre os posts, mas foi por uma boa causa - tive mais que fazer, incluindo descansar - 3 semaninhas de férias que caíram que nem ginjas :) - e um regresso ao trabalho que caiu como um piano em cima de cristais Swarowsky :p

Naturalmente que neste interregno usei e abusei das viagens, (bem baratinhas por sinal em last-minute) - fui descobrir a Tailândia mais selvagem, a New York dos filmes de acção, aprendi imenso sobre a história do mundo, (desde a antiguidade até agora), vivi experiências radicais com para-pentes, experimentei armas de fogo de última geração e conduzi carros desportivos de fazer inveja ao Ronaldo - tudo isso praticamente a custo zero ;)

Claro que já se aperceberam que a crise não afecta a imaginação dos tugas (antes pelo contrário, aguça-a) e eu não fui excepção: armado apenas de uma ligação de fibra óptica, um PC que era o último grito em 2009 e os meus reflexos artriticamente felinos entreguei-me de alma e coração a um rigoroso programa de jogos de computador, filmes, livros, música e algumas saídas para jantar e almoçar com família e amigos - até fotos eu tirei do mundo lá fora, nesses dias, tão rara era a ocasião... Mas o mais importante foi mesmo a sensação de ter deixado este país, estes constrangimentos monetários, este rame-rame de pessoas, acontecimentos e rotinas, em que vi coisas novas, tive sensações inusitadas e me desprendi da parte mais física do meu ser.

O que me traz ao tema de hoje - já estavam a pensar que me tinha esquecido, admitam lá... - o dos amigos imaginários e de como a nossa memória percepciona o passado menos recente, mesmo aqueles momentos que garantimos a nós próprios "nunca esquecer"...

Possivelmente alguns de vós terão tido, nalguma fase da infância, a companhia de um fenómeno próprio de pequenos adultos colocados em situações em que precisam de partilhar experiências e acontecimentos com alguém que não os julgue, os acompanhe, entenda e, acima de tudo, esteja sempre presente, no melhor e no pior - a ciência psiquiátrica deu-lhe o nome de "Amigo Imaginário" e a criança ter-lhe-á, por sua vez, dado tudo o resto: outro nome, uma descrição física, preferências pessoais, brinquedos favoritos e até um lugar à mesa, na cama e nas brincadeiras do dia-a-dia. 

Em suma, a criança criou-o para fugir da sua realidade, nem sempre de situações traumáticas ou deprimentes, mas muitas vezes apenas como companhia, para poder explorar um mundo que ela populava com  as suas criações, os seus pequenos demónios interiores e onde ela era o centro das atenções, o herói ou heroína da história, onde as suas decisões, certas ou erradas, nunca seriam confrontadas com um "porque eu mando", um cruel "porque sim" ou o malvado "porque não"...

Apesar de ser raro detectar estes casos em jovens adolescentes e adultos, (fora de situações clinicamente referenciadas e políticos, em fuga da realidade, para Paris), podemos encarar os livros, os filmes, e o melhor exemplo, os jogos de vídeo, como expressões última da nossa vontade assumida e continuada de vivermos outras vidas, realizarmos façanhas impossíveis, ter toda uma história a girar à nossa volta, tomarmos as decisões mais difíceis e, no final, ficar com a miúda e salvar o mundo - tenha ele folhas de celulose, saia de um plasma de 50 polegadas ou se controle com rato e teclado, não deixámos de ter vivências reais com amigos imaginários - ou talvez vidas imaginadas com amigos reais... :)

E isto encadeia-se, quando vamos envelhecendo, com a nossa memória, companheira de uma vida, aquele elemento indefinível que nos faz não só aprender com a experiência, como guardar pequenas esferas de pura luz dourada, (onde indelevelmente ficaram marcados os momentos mais doces), e outras do mais lúgubre negro, (onde alguma tragédia pessoal nos deixou cicatrizes tão profundas como uma trincheira) - esta nossa capacidade para seleccionar o que nos vai ser essencial para ser feliz, uma referência no espaço-tempo de uma vida, e guardarmo-lo lado a lado com um pedaço de chumbo que nos quer arrastar para o fundo, faz do ser humano uma criatura tão permanentemente insatisfeita como, em última análise, uma obra de arte.

E ainda mais engraçado, é que a nossa memória é de tal forma protectora dos nossos sonhos e pesadelos, que metaforiza à bruta as nossas recordações mais fortes, imbuindo-as de significados e pequenos detalhes, ressaltando apontamentos de cores, cheiros e sons, criando um caleidoscópio feito à medida das nossas expectativas - naquele dia em que tivemos medo de uma aranha, em bébés, um medo que nos acompanhou para sempre, ela não tinha 30 patas peludas e o tamanho de um pequeno cão, nem caminhou sobre nós para nos picar, matar e comer... Mas é assim que a mente se recorda do que sentiu, do que experienciou e vai ser sempre assim que uma aranha será, até que a morte nos leve (ou um bom hipno-terapeuta nos liberte dessa ilusão, o que quer que venha primeiro...).

Paradoxalmente, as boas recordações costumam ser acompanhadas de dias de sol, do cheiro da luz quente - isto faz muito mais sentido (para um neurónio aparvalhado) do que parece -, de sabores intensos, cores vivas e momentos perfeitos - um pouco como uma foto tirada à pressa, em que a gama cromática exagerou todas as cores a níveis impossíveis neste planeta, tornando a realidade numa hipérbole de si própria... 
Mas enquanto vivermos, e cada vez mais à medida que a luz se for extinguindo (porque as memórias mais antigas, por terem sido "gravadas" em neurónios mais jovens, são as últimas a morrer...), aquele terá sido sempre um dia perfeito, com a companhia ideal, o amor de uma vida...

Em resumo, em miúdos e graúdos, a necessidade de criar um escape mental parece ser um elemento essencial da nossa sanidade, seja ele um amigo que só nós vemos, um filme de capa e espada, um romance de cordel ou um jogo de role-play... 

Quantos de nós levam essa muleta consigo num maço de tabaco, a bebem de um copo de três, a injectam de uma agulha usada, a possuem num quarto de motel, a agridem numa luta de rua ou tentam calá-la com saldos de conta?

A dor que cada um de nós carrega, aquela centelha de permanente insatisfação, é saciada temporariamente com os mecanismos que vamos tendo à nossa disposição, por vezes de forma imperfeita, outras mais conseguida, mas sempre connosco, a verdadeira e genuína inimiga imaginária, o contraponto daquela memória para onde queremos regressar, daquele dia que gostaríamos de voltar a viver, vezes e vezes sem fim...

Enfim, este post já vai enorme e metade de vocês já ronca - sim, tu aí atrás, estou a falar MESMO contigo - pelo que vou terminar: quero que vivam os momentos desta vida com uma intensidade tal que as recordações sejam tantas como as estrelas do céu, que os dias de sol sejam mais que os grãos de areia de uma praia deserta em fim de dia, e que todas as coisas más tenham a importância de um castelo de areia feito na maré baixa... Por maior que pareça agora, vão ver quando a água voltar a subir... ;)

Uma excelente noite, meus amigos, uma vida plena de maravilhas, e lembrem-se, se encherem a memória com sorrisos, não vai haver espaço para as tristezas :D