Amigos, neste dia repleto de significados esotéricos, numerológicos, matemáticos e outros, quis deixar uma reflexão social e altamente pessoal, que por acaso é coisa pouco habitual neste blog.
Sem muito preâmbulos, hoje quis falar da facilidade, da autêntica arte que está enraizada, desde tenra idade, na maioria de nós, a da desculpa fácil aos nossos defeitos, erros e responsabilidades.
Talvez seja porque é uma questão ocidental, possivelmente mediterrânica, mas possivelmente mais transversal a "ene" civilizações do que gostaríamos de admitir, mas tenho dias em que me farto das esquivas, das permanentes tentativas de tanta gente para evitar o inevitável: assumir alguma coisa de que não se orgulhem.
Entre clientes distraídos, que nem olham para as cadernetas antes de as actualizar e metem uma página qualquer, jurando a pés juntos que algum ilícito tinha sido praticado nas suas contas, ou que a máquina se tinha enganado - clássica, esta última - passando por colegas que nunca desarrumam nada - presumindo-se portanto culpa do material, que como é rebelde se desarruma sozinho... - e terminando em amigos, familiares e conhecidos que se esquivam de assumir responsabilidade no actual estado de coisas do nosso país - possivelmente por amnésia, que a omissão de auxílio é crime... - é um desconsolo ver o estado de coisas a que se chegou.
Entre políticos que apontam o dedo a tudo menos a si próprios, a pais que culpam professores, sociedade, filmes e jogos de vídeo pelos filhos que andaram demasiado ocupados para criar, a países que deitam as culpas de erros recorrentes a gerações mortas e que levantam as mãos para os céus, num gesto de absoluta inocência, entre religiões que chutam p'ra canto ensinamentos pacíficos e só lêem o que lhes convém, e entre milhões mortos pela fome, pela doença e pela guerra todos os anos enquanto o mundo dito civilizado, de costas viradas, pergunta se será altura de se inscrever num ginásio...
E depois não podemos desprezar o valor da Comparação Relativista (adiante designada por CoRe), que tenta colocar em perspectiva erros grosseiros ou defeitos gravosos, à luz de situações que permitam pensar que a asneira de que se é acusado é pequena comparada com a de umas misteriosas "outras pessoas", dos infames "montes de malta" ou do famigerado grupo "toda a gente".
Dou-vos como exemplo um colega meu, super boa onda, altamente espiritual - como o bacalhau, mas mais corpóreo - que, teimosamente, apesar de ser altamente inteligente e ter uma memória prodigiosa para dados políticos e geográficos, insiste em fumar como se o mundo fosse, de facto, acabar em 2012 (coisa com que ele insiste ser verdade, em brincadeira naturalmente). Já o conheci a fumar meio maço por dia - o que para quem nunca viu um desses à frente, se traduz em 11 preguinhos de caixão - e a sentir-se excelente, mas a querer diminuir. Nessa altura, usando o tal esquema da CoRe, ele alegava que conhecia "outras pessoas" que fumavam um maço inteiro, ou mesmo mais!!
A parte engraçada é que estou convencido que ele acreditava mesmo que isso queria dizer que ele tinha uns pulmões virgens, e não que se matava - ligeiramente - mais devagar, o que é completamente diferente. O poder da sugestão é, indubitavelmente, uma força poderosa :)



Enfim, escusado será dizer que por essa altura este amigo já não passava a horinha habitual sem fumar, tendo reduzido o seu compasso de espera em muitos minutos e aumentado o consumo em muitos preguinhos - lá se ia a estatística confortável...


Não há mês que passe sem que eu me olhe ao espelho e pense que era melhor estar sossegadinho, que as ondas moem pedras, mas têm muito mais força com o mar todo por detrás - e que uma voz solitária tem um poder quanto muito simbólico, se não for solista de um coro maior, ou parte de um colectivo coerente.

A partir de um determinado momento, ou tomamos as rédeas das coisas, ou elas tomam as nossas - e acreditem que sentir o cortar do chicote no lombo, o freio nos dentes e as forças a esgotarem-se sob um futuro inclemente é um destino pior que a morte.
Parar é morrer, e fingir que não erramos o suficiente para ter de mudar é pior que parar - é imaginar que corremos enquanto todos vêem que estamos imóveis, de olhar fixo no umbigo, um fiozinho de saliva a escorrer no canto dos lábios...
Não podemos deixar que o maior inimigo da nossa felicidade nos impeça de atingir todo o nosso potencial - e se esse inimigo for o nosso próprio orgulho desmesurado, será assim uma vítima tão importante a sacrificar no altar dos nosso sonhos?
Feliz São Martinho, amigos e amigas, que esta noite vos traga iluminação e um caminho claro à vossa frente - mas atenção, se exageraram na água-pé, pode ser sinal que caíram na linha do comboio... :D
Muito bom post, como aliás é hábito da casa.
ResponderEliminarO que me leva a deixar pequenas ressalvas quanto ao tema em concreto, pois abrange milhões de pessoas.
Vamos partir de um princípio, um pai de família sri-kalense com todo o seu terreno agrícola devastado pelas intempéries recorrentes naquela zona, derivado da sua escassez de recursos, uma filha parte para a capital para se prostituir e o filho mais novo, morre com uma lombriga de 30 cm. no estômago que lhe devasta os orgãos internos por beber nos riachos adjacentes das barracas onde vivem, apesar de haver ONG's, que teimam em ensinar e a cagar nos WC's portáteis que instalam nessas zonas.
A questão que fica, é que, será justo negar a este pai, com a sua esperança de vida média, já traçada pelas condições reais de vida, a fumar um cigarro? O que importará isso na sua vida, melhor nesta vida?
Sem dúvida nenhuma, que através do conhecimento actual, o cigarro é responsável por ceifar milhões de vidas todos os anos, além de ser um enorme encargo para os sistemas de saúde em todo o mundo.
Por exemplo, existem pessoas que se suicidam, outras tentam (as apelidadas tentativas de suicídio), mas porque restringir o direito de suicídio em diferido, tal como, os cartões de débito diferido.
Não ocorre às pessoas, que possam haver pessoas, que se suicidem lentamente. Que até gostem disto, "mas nom troppo", e tem uma ferramenta na qual se certificam, que um dia, vão desta para melhor. Se calhar até com sofrimento, por vezes até atroz. Mas é tudo resultado do fato macaco que envergamos fisicamente, desenvolvido pelas leis da sobrevivência. O que vestimos hoje é do mais elevado resultado tecnológico que conhecemos, o homo sapiens sapiens, Ele tem capacidade de se curar de muitas maleitas, sem nós sequer pensarmos nisso, ele permite maximizar o nosso tempo aqui, para evoluirmos noutras vertentes, sem perdermos tempo em caça, cozinhar e proteger-mo-nos, organizamos uma sociedade que abarca essas valências.
Mas não nos esqueçamos de que somos animais carnívoros, o vegetarianismo é um must, uma moda.
Quando os colonos ingleses e portugueses descobriram as folhas de tabaco, ficaram impressionados com o uso que os índios já faziam delas. Desde para fins medicinais, como para comunicarem com os seus antepassados.
E atendendo às múltiplas vidas que todos nós já tivemos e que teremos ainda pela frente, pois por ainda sermos imperfeitos, pinçando uma vida que tivéssemos à 300 ou 400 anos atrás, que significado tem actualmente, mais 20 ou 30 anos de vida nessa altura.
Estas questões têm um lado muito relativo, melhor, muito relativo.
Repara que porventura, existam pessoas que não tenham medo de morrer, e que tenham nas suas vidas uma espécie de saudade de algo que não percebam porquê.
Essa saudade, vem muitas vezes da vida que levávamos no outro lado, aliás, passamos mais tempo na dimensão extrafísica do que na intrafísica.
Não quer dizer, que todas as pessoas que sintam esse sentimento, comecem a fumar desalmadante, não tem nada a ver.
Mas, por outro lado, há quem não tenha receio disso, porque sabe, que com ou sem cigarro, volta para lá e depois volta para cá, é o ciclo existencial e isto é um facto insofismável, meu caro.
Nessa linha incoerente coerente, além de ir fumar um cigarrito, porque não, juntar o útil ao agradável, e beber um whiskizito.
Enquanto se está cá e temporariamente, porque não aproveitar as vantagens da fisicalidade, antes de viver fisicamente encolhido e arrepender-mo-nos durante dezenas de anos. Enquanto às escondidas aclopamos noutros físicos para sentir os prazeres físicos e carnais.
Termino, sem deixar de reparar, que o indivíduo que relatas, dever ser um fulano muito inteligente e fundamentalmente muito bonito.
Abraço.
Nesta sociedade cada vez mais do “chega pra lá” (como tão bem designas), a desculpabilização e desresponsabilização dos próprios erros tende a assumir um papel crescente.
ResponderEliminarTodos nós erramos, mas será que todos temos essa noção e discernimento? E, quando falhamos, estaremos dispostos a analisar com algum distanciamento e dar a mão à palmatória? Pois talvez não, talvez não consigamos assumir os nossos erros e fraquezas, ou até largar o vício (seja o tabaco que aqui referes, ou qualquer outro), por mais incoerente que possa ser. Optamos muitas vezes pela desvalorização e pela tal “comparação relativista”... será uma forma de nos sentirmos melhor, de evitar o confronto com o óbvio, de não nos colocarmos numa situação de fragilidade.
Não é comum encontrar pessoas com convicções, carácter, interventivas, inteligentes e com um bom coração. Tu és uma dessas pessoas! Não é fácil ser a voz solitária, aquele que aponta e se recusa a escolher o caminho mais fácil por ser o mais cómodo. Mas é de pequenos passos de pessoas que arriscam, que se atrevem a ser diferentes, da sua perseverança e atitude inconformada, que o Mundo avança.
És uma pessoa dotada de tanta criatividade, e devias aproveitar esses teus dons, pois há por aí muita gente que não foi bafejada nem com metade de um deles! Como já te disse anteriormente, tens o direito (e, atrever-me-ei a dizer, a obrigação) de fazer a tua mente voar e criar, escrever muito e de forma brilhante. A inspiração está dentro de ti, cabe-te a ti encontrá-la. A sensibilidade e o talento já os tens!
Beijinhos,
J.Ro.